Luz

As pessoas mais fortes que já conhecemos não são animais humanos, e ela, é sem dúvida, é uma delas.

Curamos-lhe as feridas do corpo e da alma, e ela, mesmo sem o saber, curou feridas nossas que não se veem à flor da pele. A sua história é feita de uma sede pela vida que poucas vezes encontramos entre humanos.

Qualquer um de nós, no seu lugar, estaria semanas nos cuidados intensivos, sedado para não sentir dor, para não estar consciente. Mas ela nunca desistou. E soube sempre que o que tínhamos para lhe dar era apenas amor, que estávamos ali somente para a ajudar.

Ela não nos deu lições de vida; ela é a lição de vida.

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Luz sempre foi o nome dela mesmo quando vivia na escuridão.

O humano que a explorava, a ela e à sua família, ao ver as chamas a aproximar-se, durante um incêndioflorestal em Gondomar em 2024, não abriu a porta do barracão; decidiu fechá-la para que nem ela, nem a sua mãe, nem os seus irmãos pudessem sobreviver.

“Se não és minha, não és de mais ninguém” — eis a mentalidade tóxica de homens que se apoderam da vida como se fosse uma propriedade, sem o mínimo de escrúpulos, respeito ou humanidade.

A Luz teve de assistir à sua mãe a morrer queimada, teve de ver os seus irmãos a serem consumidos pelas chamas. Ficou por perto tempo demais: dos seis sobreviventes, foi a que decidiu permanecer mais tempo junto de quem amava, de quem lhe deu vida e apenas a soube amar.

Mas quando a dor se tornou insuportável, não teve outra opção senão fugir.

Tivemos de a ver a sofrer durante meses, com queimaduras profundas, no corpo e na alma. Um corpo de bebé que teve de sofrer tanto para se libertar. Assistimos à sua força com o coração apertado, mas sempre com uma admiração que não cabe em palavras, enquanto as lágrimas nos escorriam pelo rosto ao cuidar das suas feridas.